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Nheengatu

Leonel Figueiredo de Alencar

22 de setembro de 2022

O nheengatu, também conhecido como tupi moderno e Língua Geral Amazônica, entre outras designações, é uma das dezenas de línguas indígenas brasileiras ainda vivas. O termo nheengatu surgiu por volta de meados do século XIX, significando originalmente "língua boa", resultado da composição do substantivo nheenga 'língua' e do adjetivo katú 'bom'. No padrão ISO 639-3, representa-se pelo código yrl, derivado de yeral (geral em português), um dos termos com que é designado em espanhol.

O nheengatu descendente do tupinambá, língua tupi-guarani que era falada no norte do Brasil até o século XVIII. O tupinambá era uma das variedades do que se designa tupi antigo, "a língua mais falada na costa do Brasil" no século XVI, nas palavras do Pe. Anchieta, que publicou uma gramática da língua em 1595.

O tupi foi o principal veículo de comunicação nos primeiros séculos do Brasil colonial. Era falado tanto por indígenas de diversas etnias quanto por portugueses e seus descendentes. A língua portuguesa limitava-se então à esfera administrativa. Com o tempo, o tupi foi sofrendo mudanças, transformando-se em diferentes línguas gerais, dependendo da região. O nheengatu, que sobrevive até hoje, deriva da língua geral do norte ou setentrional. A Língua Geral Paulista, contudo, extinguiu-se no século XIX.

O nheengatu é a língua materna (L1) ou segunda língua (L2) de estimadas 6000 pessoas no município de São Gabriel da Cachoeira, na região do alto rio Negro, e 8000 em território colombiano, pertencentes a etnias originalmente falantes de línguas não tupis, quase todas extintas ou moribundas. Praticamente desaparecido na Venezuela e ameaçado de extinção tanto na Colômbia quanto no Brasil, ainda é usado neste último pela população em idade reprodutiva, porém, a transmissão às crianças está sendo interrompida.

Felizmente, nos últimos anos, o nheengatu tem passado por um processo de revitalização, impulsionado por traduções literárias e cursos em universidades brasileiras, despertando o interesse também do público não indígena. Tem sido também adotado por diversos grupos indígenas de diferentes regiões do Brasil como meio de afirmação de sua identidade étnica.

O estudo do nheengatu reveste-se de grande importância histórica, uma vez que foi, durante dois séculos e meio, nas palavras de José Ribamar Bessa Freire, “a principal língua da Amazônia”, posição que perderia para o português apenas na segunda metade do século XIX. É talvez a única língua indígena brasileira cujo desenvolvimento ao longo de mais de quatro séculos pode ser acompanhado por meio de textos que documentam os seus vários estágios de evolução.

Afirma Aryon Dall’Igna Rodrigues no prefácio do livro Rio Babel: a história das línguas na Amazônia, de José Ribamar Bessa Freire:

A história da Língua Geral Amazônica é, sem dúvida, uma das mais interessantes nas Américas e deve ser conhecida não só pelos estudiosos da História do Brasil, mas também por todos os que estudam as Ciências Sociais, as Letras e a Linguística neste país.

Referências

ALENCAR, Leonel Figueiredo de. Uma gramática computacional de um fragmento do nheengatu / A computational grammar for a fragment of Nheengatu. Revista de Estudos da Linguagem, v. 29, p. 1717-1777, 2021.

AVILA, M. T. Proposta de dicionário nheengatu-português. 2021. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021.

CRUZ, A. Fonologia e gramática do nheengatú: a língua falada pelos povos Baré, Warekena e Baniwa. Utrecht: LOT, 2011.

EBERHARD, D. M.; SIMONS, G. F.; FENNIG, C. D. (org.). Ethnologue: Languages of the World. 25. ed. Dallas: SIL International, 2022. Disponível em: http://www.ethnologue.com. Acesso em: 6 abr. 2022.

FREIRE, J. R. B. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. 2. ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.

NAVARRO, E. A. Curso de Língua Geral (nheengatu ou tupi moderno): a língua das origens da civilização amazônica. São Bernardo do Campo: Paym, 2011.

NAVARRO, E. A.; ÁVILA, M. T.; TREVISAN, R. G. O Nheengatu, entre a vida e a morte: a tradução literária como possível instrumento de sua revitalização lexical. Revista Letras Raras, Campina Grande, v. 6, n. 2, p. 9-29, 2017.

RODRIGUES, A. D. As línguas gerais sul-americanas. Papia, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 6-18, 1996.

RODRIGUES, A. D. Prefácio. In: FREIRE, J. R. B. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. 2. ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011. p. 13-14.

RODRIGUES, A. D.; CABRAL, A. S. A. C. A contribution to the linguistic history of the língua geral amazônica. ALFA: Revista de Linguística, São Paulo, v. 55, n. 2, 2011.